domingo, 24 de janeiro de 2016

Defeito nas pistolas expõe os policiais do DF a mais um fator de risco


Profissionais da Segurança Pública de todo o país estão submetidos a uma situação desnecessária de risco: são cada vez mais comuns os casos de disparo acidental, por queda sem o acionamento do gatilho, das armas fabricadas pela Forjas Taurus – uma das três maiores indústrias de armas leves do mundo.

A empresa é a principal fornecedora das forças de segurança do Brasil – graças a Lei 10.826/2003, as polícias só podem comprar armas de empresas estrangeiras se não houver modelo semelhante produzida nacionalmente.

Por essas razões, seria natural esperar que o armamento produzido tenha qualidade. Mais que isso, soa estranho imaginar que uma pistola municiada possa cair e disparar. Mas é, infelizmente, o que vem acontecendo – e isso indica a possibilidade de um defeito gravíssimo na fabricação das pistolas da Taurus.

Uma simples busca na internet confirma essas suspeitas. A página “Vítimas da Taurus” é a mais conhecida. Ela lista uma série de casos de policiais que se feriram – em alguns casos, fatalmente – com a principal ferramenta de trabalho: a pistola Taurus PT 24/7 calibre ponto 40.

As vítimas defendem a tese de que as armas, entre as mais populares nas polícias brasileiras, tenham sido adquiridas com defeito de fabricação. A fabricante ignora, sistematicamente, as ocorrências no Brasil.


FABRICANTE IGNORA
No Distrito Federal, tanto a PCDF, quanto a Polícia Militar do DF (PMDF), compraram diversos lotes da pistola. Até agora, contudo, apenas a PMDF realizou o recall de alguns lotes junto à Forjas Taurus.

O agente de polícia Luciano Vieira, também diretor de Comunicação adjunto do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF), é uma das vítimas. Ele tem empreendido uma jornada para que a PCDF siga o exemplo de outras forças de segurança e realize a troca das armas – um exemplo é a Polícia Federal, que utiliza armamento importado de alta qualidade.

Essa medida já deveria ter sido considerada há anos, mas vem sendo solenemente negligenciada. O defeito nas armas utilizadas cotidianamente pelos policiais civis só agrava a situação das condições de trabalho.

O Sinpol-DF vem acompanhando o caso de perto e solicitando às autoridades competentes que se empenhem para que o policial possa trabalhar com segurança. “Todos estão com a vida exposta: nós, policiais, e os cidadãos. A arma aparenta ter um grave defeito de fabricação”, afirma Luciano.

O caso dele ocorreu em novembro de 2011, no apartamento onde mora, em Brasília. Ao chegar em casa e tirar a pistola da cintura, a arma de Luciano acidentalmente caiu no chão. O choque contra o piso causou um disparo, atingindo o policial na região do tórax. A bala atravessou o corpo dele saindo pelas costas, na altura do ombro, alojando-se no teto.

Luciano Vieira ficou hospitalizado por quatro meses. A partir desse acidente, o diretor do Sinpol-DF começou a investigar outros casos no DF e em outros estados, chegando a conclusões estarrecedoras.

CASOS NO DF
Além de Luciano, há registros de mais sete acidentes envolvendo policiais civis do DF – três deles com armas fabricadas no mesmo lote. Por sorte, nenhum desses se feriu gravemente.

Em todos, as circunstâncias são idênticas: mesmo com a trava de segurança acionada, a arma cai ao solo, dispara e o cartucho não é ejetado – o que indica o defeito.

Às vezes, contudo, a pistola nem chega a cair no chão. Foi assim com o agente de atividades penitenciárias Patrício Junior de Oliveira, que trabalha no Presídio Feminino do DF. Em abril deste ano, a pistola 24/7 Taurus que ele portava disparou durante uma caminhada do agente pelos alojamentos.

A bala atingiu a perna esquerda, perto da veia femoral. O acidente trouxe sequelas graves. “Esses casos são mais raros, mas acontecem. A arma estava na minha cintura; eu estava com as mãos ocupadas e ela disparou apenas com o movimento da minha caminhada. Por pouco, não morri”, recorda Patricio.


Com informações e foto do Sinpol-DF

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